segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

PSICOPATA AMERICANO (2000), DE MARY HARRON




Alguns projetos já nascem com a estampa "polêmica" muito antes do roteiro começar a ser escrito. A adaptação do polêmico livro de Bret Easton Ellis foi marcada por várias confirmações e desistências de diretores como David Cronenberg e Oliver Stone e astros como Brad Pitt e Edward Norton, quase terminando com Leonardo Di Caprio como protagonista, sendo dirigido por Stone, sendo oficializados nos primeiros anúncios do filme. Mas, no final das contas, quem assumiu a bronca mesmo foi a diretora Mary Harron, do desconhecido (e interessante) "Um Tiro para Andy Warhol" e com Christian Bale no papel de Patrick Bateman, o psicopata do filme. Problema resolvido, vamos ao filme! E ele funciona?


Bom, isso vai de gosto, mas temos aqui um suspense muito diferente e bastante estranho até. Ele mistura elementos que vão do horror psicológico ao giallo, passando por momentos de puro surrealismo e loucura. É como se a diretora tivesse feito um "noitão" vendo filmes de Alfred Hitchcock, Brian De Palma, Dario Argento e ainda visto mais um filme do Takashi Miike e outro do David Cronenberg antes de ir tomar o café da manhã. E, acreditem, essa mistura fez muito bem no resultado final.


Christian Bale se destaca ao interpretar um personagem que se situa entre o egocentrismo e a insanidade, talvez por isso se destacando como alto executivo da empresa onde trabalha. Sua obsessão em ser o melhor ultrapassa os limites do bom senso quando ele percebe que já conseguiu o q que queria e que precisa de novas emoções na sua vida fútil, chegando a uma conclusão: matar!


E lá vai o executivo bonitinho, asseado e yuppie cometer os assassinatos mais ilógicos de que se tem notícia no cinema atual, sempre motivados por uma egotrip que é puro humor negro. Vale destacar que a forma que a diretora optou em mostrar Patrick, com uma abordagem mais pro humor, ao contrário do livro, não desmerece em nada o filme, pois mostra o ridículo que uma vida cheia de futilidades pode causar, funcionando como uma bela crítica ao consumo exagerado da sociedade atual.


O filme tem cenas fortes e violentas, de uma crueza assustadora, mas em outros momentos é puro humor negro com toques de surrealismo. A tal cena em que Patrick transa com uma prostituta refletindo sobre a carreira da banda Genesis nas fases Peter Gabriel e Phil Collins é de um sarcasmo que vai fazer gargalhar os fãs da banda (como este que vos escreve), mas que não vai deixar ninguém boiando. Aliás, os vários devaneios pseudo-filosóficos dele são uma pura prova de como a sociedade anda cada vez mais egocêntrica e banal, sendo tão interessantes quanto as cenas mais chocantes do filme.


No final do filme, temos uma pequena reviravolta, mas nada que comprometa. O resultado final é um bom filme de suspense, bem adaptado do livro original e com uma interpretação excelente de Christian Bale, se sobressaindo em um elenco que ainda tem o ótimo Willem Dafoe como o detetive que investiga os assassinatos, tão ou até mais psicótico que o personagem título e a talentosa Reese Whiterspoon como a noiva e fútil e carinhosa do personagem. Mas o grande mérito vai pra diretora Mary Harron, que acredito tenha sido a melhor opção para o filme, pois na mão de Stone provavelmente sairia um filme mais político e panfletário, deixando a boa trama em segundo plano. A escalação de Bale não poderia ser melhor (Di Caprio não tem nada a ver com o personagem) e a sua habilidade em cenas mais violentas é notável, o que me faz aguardar com ansiedade seu próximo filme "The Moth Diaries", que deverá sair nesse ano, que fala sobre vampiros (espero que sem o enfoque afrescalhado de uma certa série). Vale destacar que depois desse filme ela dirigiu episódios de boas séries como "Oz", "The L Word" e "A Sete Palmos", além de ter dirigido o notável "The Notorius Bettie Page", sobre a lendária pin-up, que em breve terá resenha aqui.


Depois do sucesso do filme, fizeram uma continuação "Psicopata Americano 2", lançada direto em DVD e que é uma bela tranqueira, se aproveitando de maneira oportunista do original, que só vale pra quem gosta muito de filmes picaretas. Mas o original está aí, pra quem quiser ver! Para quem já foi considerada "maluca" ao adaptar filme que era tido como "infilmável" devido a sua extrema violência, Mary Harron deu conta do recado muito bem, inclusive com um resultado do que teria se certos diretores premiados assumissem a tarefa, o que felizmente não ocorreu!


Só uma observação: Giallo, pra quem não sabe, é um estilo de filme de suspense policial feito na Itália baseado em livros policiais cujas capas são amarelas (amarelo é giallo, em italiano). As histórias desse gênero quase sempre são de assassinos em série, envolvendo também detetives obcecados, muitas cenas sangrentas e vítimas aos montes, em sua maioria, mulheres. Esse gênero teve seu auge na década de 70, sendo o italiano Dario Argento seu realizador mais conhecido, mas ainda hoje existem filmes no estilo, inclusive dirigido pelo próprio, hoje um senhor de 70 anos e pai da bela atriz Asia Argento.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

TRABALHO SUJO (2009), DE CHRISTINE JEFFS





Interessante notar que certos temas parecem se reciclar de tempos em tempos e ganhando novas maneiras de serem abordados. Pessoas que não decolam na vida e acabam se submetendo a serviços rejeitados pela maioria das pessoas não são novidade no cinema, mas é um tema que sempre se recicla e gera filmes originais, como esse "Trabalho Sujo" da diretora Chrsitine Jeffs. Aqui o foco vai para uma faxineira (Amy Adams) que, ao ver seu filho expulso da escola privada onde estuda e com receio de ter que matriculá-lo numa escola pública (e tem gente que acha que isso só tem aqui no Brasil), resolve aceitar um serviço bastante indigesto: limpar sujeiras de sangue e pedaços de cadáver dos locais onde os crimes aconteceram. Para tanto ela recruta ajuda da irmã desajustada (Emily Blunt) para a empreitada. E lá vão as duas atrapalhadas encarar sangue, tripas e mau cheiro em vários cantos da cidade, com a missão de deixar tudo limpinho e tinindo.

O grande mérito desse filme foi naturalizar a situação, sem apelar para clichês fáceis, conseguindo um resultado positivo na maioria do tempo, principalmente na primeira vez que elas tem que encarar o serviço, na que acredito, ser a melhor cena do filme, bastante crua e forte. Esse filme se equilibra entre o drama e a comédia e, se não fosse pela meia hora final, que cai no estilo novelão, seria um ótimo filme, embora no final os acertos superem os erros. A diretora Christine Jeffs, do interessante "Sylvia - Paixão Além das Palavras" agora sai um pouco do clima intimista e investe em um filme mais realista, com bons resultados. Seu estilo de direção é bastante interessante, pois tirou da razoável Amy Adams uma boa atuação e deixou a ótima Emily Blunt ainda melhor. Mas o melhor em cena é o veterano Alan Arkin, que chama toda a atenção pra si atuando como o pai das duas, num estilo falastrão e sonhador, que mais promete do que cumpre de fato e quase sempre se ferra no final.

Esse filme é recomendado especialmente pra quem gosta de temas diferentes e fora do convencional. Não é um filme definitivo e nem é clássico, mas vale duas horas de atenção, especialmente pra conferir o talento de uma diretora sensível e de um elenco afiado, em sintonia com um tema ao mesmo tempo macabro e redentor.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

AS MELHORES COISAS DO MUNDO (2010), DE LAÍS BODANZKY




Se tem uma coisa que chama a atenção no cinema de Laís Bodanzky é justamente o fato de saber falar sobre a realidade de maneira simples, objetiva e sem apelar para os clichês do chamado "cinema cabeça" tão presentes em nosso cinema. Dito isso, o filme "As melhores coisas do mundo" é um passatempo divertido, que funcionaria como uma ótima sessão da tarde não fosse pelos poucos palavrões que são ditos (nada apelativo, apenas realista e condizente com o seu público). A história gira em torno do jovem Mano (Francisco Miguez), que tem o mundo virado de cabeça para baixo quando sabe que seus pais (José Carlos Machado e Denise Fraga, ótimos!)vão se divorciar. Sua situação se complica ainda mais quando ele descobre que o pai não trocou a mãe por UMA amante e sim por UM amante (Gustavo Machado). Pra variar ele tem que aguentar os devaneios do irmão mais velho, o sonhador Pedro (Fiuk), cujo talento para as artes acaba ofuscado diante do desespero e da obsessão dele pela namorada (Sophia Gryschek), que sente cada vez mais sufocada. E, pra encerrar, ele ainda tem os problemas típicos de um adolescente como garotas, encrencas e um ideal a buscar.

O filme tinha absolutamente tudo para se tornar intelectualóide, repetitivo e cansativo, mas a talentosa Laís sabe fazer cinema inteligente e acessível (como já demonstrou em seus longas anteriores, os ótimos "Bicho de Sete Cabeças" e "Chega de Saudade") e entregou um filme para adolescentes, mas que os adultos podem assistir numa boa e se identificarem com algumas das situações vividas pelos personagens, como a perda da virgindade, a amiga que se apaixona pelo professor, o irmão rebelde sem causa, o professor de música que ensina sobre "viver a vida intensamente" ou o primeiro amor, que muitas vezes está bem perto. O filme tem boas participações de Caio Blat e Paulo Vilhena e a trilha sonora é focada em clássicos do rock, o que o torna bem agradável. O final é previsível - ainda bem - pois é do tipo que você pelo final esperado. Além disso, vale destacar o talento fantástico de Laís em dirigir atores, obtendo deles desempenhos muito acima da média, fazendo até o insosso Fiuk atuar de maneira convincente. O filme não foi um fracasso nos cinemas, mas merecia muito mais público. Quem sabe isso não pode ser mudado no DVD? Assista, vale a pena! É mais um grande trabalho de uma das melhores e mais promissoras cineastas da América Latina. Muito recomendado!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

KATHRYN BIGELOW: A CINEASTA DOS FILMES "DE MENINOS"

Em um tempo onde o cinema está cada vez mais tencológico e cheio de efeitos visuais, é interessante notar que o grande vencedor do Oscar de 2010 foi um modesto filme de uma diretora que, por sinal, é ex-esposa do grande favorito. O filme em questão se chama “Guerra ao Terror” e a diretora se chama Kathryn Bigelow, que desbancou “Avatar” e o Todo-Poderoso James Cameron do favoritismo aos prêmios principais. Agora, quem é Kathryn Bigelow?

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Essa cineasta estadunidense começo a carreira fazendo um curta chamado “The Set-Up”, com o ator cult Gary Busey. É um curta bastante freneético e violento, que mostra características íntimas do seu tipo de cinema. A sua primeira estreia em longas metragens foi com o hoje cultuado The Loveless, realizado em 1982:

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Esse filme é especialmente recomendado para quem gosta de filmes B sobre estrada, pois reúne elementos diversos que vão desde as viagens psicodélicas de Russ Meyer até a contracultura estadunidense, passando pelo rock ‘n’ roll e pelos beatnicks. Nesse pequeno clássico, Willem Dafoe interpreta um líder de uma gangue de motociclistas que se prepara para uma corrida em Dayotna. Nisso ele agita uma pequena cidade, que se vê confusa diante das figuras. O filme mistura drama, ação e corrida de maneira inteligente e até ousada, embora caia um pouco no final. É muito comparado com o filme “Christine - O Carro Assassino” de John Carpenter, mas são filmes bem diferentes. Esse filme jamais foi lançado aqui, mas tem uma versão em DVD gringa, que saiu pelo selo Blue Underground. Vale a pena adquirir!

Após sua estréia, Bigelow resolve investir em um filme de terror, ainda que mantenha várias das características que o primeiro teve, como grupos violentos e a estradas ensolaradas. Dessa
vez porém, é uma família de vampiros que ataca no filme “Near Dark - Quando Chega A Escuridão” (Near Dark), produzido em 1987:

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Esse filme foi um relativo sucesso de bilheteria e a grande chance de Kathryn mostrar todo seu talento. É um dos melhores filmes B dos anos 80, cheio de gente legal no elenco (Bill Paxton e Lance Henirksen) e com uma trama bem sacada sobre vampiros de estrada, que vem de tempos em tempos para se alimentar do sangue humano. Aqui o azar recai sobre um cowboy, que aos se apaixonar por uma bela vampira, acaba sendo mordido e vampirizado, tendo que forçadamente entrar pra família de sanguessugas, mesmo que esse não seja o seu propósito inicial. O filme tem boas cenas de ação e de terror e uma trilha sonora feita pela ótima banda Tangerine Dream, que mistura rock progressivo e música eletrônica, resultando numa trilha sombria e bem climática, ajudando a bela fotografia e os efeitos simples e bem cuidados. Novamente, o filme derrapa no final, mas não compromete o resultado como um todo, sendo recomendado para admiradores de terror B. Esse filme foi lançado em VHS por aqui mas, até o momento, nada de lançamento em DVD por essas terras.

Uma característica de seu cinema é uma espécie de ecletismo tradicional, ou seja, ela sempre usa tipos parecidos, mas em estilos e situações diferentes. E isso se percebe no seu terceiro - e melhor - filme de sua carreira, o policial Jogo Perverso (Blue Steel), lançado em 1990:

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Um suspense com um roteiro afiadíssimo em que o grande segredo é o jogo de gato e rato entre assassino e policial. No caso, a policial é Jamie Lee Curtis, que é suspensa ao atirar num assaltante durante um assalto. O detalhe é que a arma do crime, que poderia provar a sua inocência, já que o bandido ia atirar primeiro, é roubada por um operador da bolsa de valores que estava no meio do assalto. Com a arma nas mãos, ele inicia um jogo de perseguição com a policial, matando pessoas deliberadamente e fazendo com que ela seja incriminada. Esse papel é vivido de maneira magistral pelo saudoso Ron Silver, que faz um psicótico sedutor e convincente. As cenas de diálogo entre os dois estão entre as melhores dos filmes de ação. Kathryn acerta a mão nas cenas de ação e entrega o ouro para os dois atores, ótimos. O resultado é um policial que mantém a tensão em todo o momento. O final é simples, mas condizente com a proposta. Grande filme!

Um ano depois, Kathryn faz aquele que viria a ser o seu filme mais conhecido, um clássico da Sessão da Tarde, o frenético Caçadores de Emoção (Point Break), de 1991:

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Dificil encontrar alguém que nunca tenha visto essa pérola. É um filme saudosista e que mostra como o tempo é cruel (eu vi ele em VHS, nos idos anos 90). A trama é a mais simplória possível: Assaltantes de banco são procurados no país inteiro, sem deixar rastros. Um policial veterano (Gary Busey, novamente com Kathryn) tem uma teoria de que eles sejam surfistas, uma vez que os assaltos são sempre nas temporadas de ondas altas. O agente especial vivido por Keanu Reeves é enviado especialmente para o caso. O que vem depois é previsível: o personagem de Keanu se envolve com os surfistas suspeitos, liderados pelo falecido Patrick Swayze, se engraça com a mulher de um deles, fica em dúvida de que lado está...enfim. Tudo o que se espera do gênero está lá. E por que esse filme, mesmo assim, é tão legal? Bom, uma das habilidades de Kathryn Bigelow está justamente em fazer boas cenas de ação e um cinema ágil, que faz a gente até esquecer os furos do roteiro e torcer pelos personagens. Soma-se isso as belas paisagens e os belos closes nas ondas e temos um filme-pipoca dos melhores, com muita diversão e adrenalina. Curiosamente, depois desse filme a carreira de Reeves decolou e ele virou um astro e a de Swayze decaiu, o levando aos papéis coadjuvantes e ao esquecimento.

Mas, como todo mundo que faz cinema sabe, sempre tem a hora de querer dar uma “experimentada” e Kathryn se cansou dos roteiros simples e quis investir em algo mais “complexo” e o resultado foi Estranhos Prazeres (Strange Days), lançado em 1995:

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Tinha tudo pra dar certo: o roteiro, escrito pelo ex James Cameron, fala sobre um futuro tenso, marcado por guerras raciais e conflitos armados, onde a humanidade se isola em prazeres solitários pra não pirar de vez. No meio disso tudo, um dispostivo que leva prazer sexual pra quem quiser e puder comprar. A sensação é tão intensa e viciante que ele acaba se tornando ilegal e vai parar no mercado negro. Nisso, um ex-policial (Ralph Fiennes) acaba virando traficante desse dispositivo e também um dependente do mesmo, sempre com lembranças de sua ex-namorada vocalista de uma banda de rock (Juliette Lewis, que também canta). Sua vida vai de cabeça para baixo quando uma usuária é assassinada por um psicopata que se utiliza do dispositivo para planejar seus crimes. Ele então passa a perseguir o psicopata, com a ajuda de uma amiga (Angela Bassett) e de um ex-companheiro (Tom Sizemore).
Mesmo com tudo isso em mãos, o filme foi um fracasso de bilheteria, e entende-se o motivo: o filme é muito simples e cheio de furos que acabam irritando o espectador. Ainda que não seja um filme ruim, essa proposta de ser “sério” o deixou com uma pretensão absurda e acaba comprometendo o que poderia ser um boa ficção científica, resultando num filme burocrático e previsível (a meia hora final é tola e quase afunda o filme). De bom temos a trilha sonora, com rock industrial dos bons, as curvas da então gostosinha Juliette Lewis e a fotografia futurista. Mas é um filme razoável, e em se tratando de Kathryn Bigelow, abaixo da média.

Kathryn, depois do fracasso, ficou reclusa por um tempo e só voltou a dirigir um filme cinco anos depois, com O Peso da Água (The Weight of Water), lançado em 2000:

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Esse é o filme mais “feminino” de sua carreira, marcada por produções cheias de testosterona. A história é adaptada do romance de Anita Shreve e fala sobre uma fotojornalista (Catherine McCormack) que investiga o assassinato de duas mulheres a golpes de machado, ocorrido em 1873, para usá-lo em um editorial sobre outro duplo assassinato, este ocorrido nos dias atuais. Para ajudar ela leva o seu marido (Sean Penn) e o cunhado (Josh Lucas), que vai acompanhado da bela namorada (Elizabeth Hurley).
Vamos dizer que esse é um filme estranho. As duas histórias (a de 1873 e a de 2000) são contadas paralelamente, fazendo um curioso entrelaçamento no final. O filme tem méritos nas atuações inspiradas de todo o elenco e nas cenas do passado, que mostra uma história de vingança e sedução. Na história atual o foco se perde um pouco e fica meio cansativo. Indefinido entre o drama e o suspense o filme vale mais pra quem gosta de filmes densos e intrigantes, ou seja, um público fora do habitual da cineasta. Não é pra todos os gostos, mas é um filme a se conferir.

Dois anos depois ela entra em um território amplamente masculino, os filmes de guerra. E faz isso com muitas honras, no bom K-19-The Widowmaker, lançado em 2002:

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Um filme sobre soviéticos comunistas produzido pelos EUA? E um filme desses ainda consegue ser bom? Pois é, Kathryn conseguiu fazer um filme do ponto de vista soviético sem exagerar no ufanismo, mostrando seres humanos que lutam pelo seu país e o defendem com tudo que puderem. Ainda que as cenas deles mostrando o Tio Sam como a encarnação do Mal sejam forçadas, embora engraçadas, o que temos aqui é a história de um grande submarino que seria utlizado na Guerra Fria (o tal K-19). Como ele apresentou problemas, é enviado um capitão diretamente de Moscou, vivido por Harrison Ford, para verificar o que acontece. A tripulação, liderada pelo capitão vivido por Liam Neesson incialmente recusa, mas acaba aceitando a contra-gosto. O filme melhora quando o submarino é novamente testado e apresenta falhas que podem acabar com todos os tripulantes. Nessa hora, todos os personagens mostram seu lado humano e acabam mostrando suas falhas e virtudes. É um filme que consegue soar inteligente sem querer complicar demais. O ufanismo, seja ele capitalista ou comunista, é deixado de lado e a luta pela vida acaba sendo o mais importante, mesmo que o governo soviético se preocupe mais com bombas e armamentos. O resultado é um filme diferente, inteligente e com um final sensível e atual, mesmo nos dias de hoje.

Sete anos depois, depois de se meter em alguns projetos para a Tve do curta “Mission Zero”, feito pra a BMW em 2007, Kathryn Bigelow volta a dirigir um filme, novamente sobre militares. O modesto Guerra ao Terror (The Hurt Locker), lançado em 2009:

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Esse filme fala sobre um técnico em desarmar bombas que se mete na grande furada que foi a invasão ao Iraque pelas tropas estadunidenses. Com certeza é um dos melhores filmes feitos nos últimos anos e mostra um clima de suspense que poucos filmes do período conseguiram. A trilha sonora e as cenas de adrenalina mantém o espectador em transe durante a projeção, nunca sabendo o que pode acontecer. Além disso, a trama consegue mostrar a faceta dos soldados que ali estão, muitos deles loucos pra sair dali, mas que ficam para manter uma ordem que já não existe mais. Pessoalmente achei esse filme bastante realista em sua mensagem e, longe de tomar partido dessa ou daquela tendência política, mostra seres humanos em constante tensão, lutando, acima de tudo, pelas pessoas que mais amam. A mensagem final do filme elucida bem esse conceito e joga um balde de água fria aos mais exaltados. Grande filme!

Com essa produção, Kathryn Bigelow ganhou o Oscar e se tornou, merecidamente, a primeira mulher a receber a estatueta. Interessante notar que a primeira mulher a ganhar tal prêmio o fez por um filme normalmente vinculado ao gênero masculino. Kathryn é uma das provas de que bom cinema não tem sexo e que uma lenda feminina é possível. Hoje ela não deve nada pra ninguém, seja em termos termos técnicos, estéticos ou em contéudo. Que seu êxito inspire mais jovens mulheres cineastas a ousarem em seus projetos e que o mundo da sétima arte seja mais diversificado!

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segunda-feira, 22 de março de 2010

APRESENTAÇÃO

Sempre que se inicia uma conversa sobre cinema, seja bebendo umas cervejas no bar, numa roda de amigos na hora do intervalo do expediente ou da faculdade ou mesmo pela internet através dos chats, uma velha questão sempre vem à tona: Quem são os maiores cineastas de todos os tempos?

Existem várias teorias e teses sobre quem seriam os melhores do cinema. Cada um vai dizer baseado em seu gosto pessoal, seja ele adquirido através de conhecimento cinematográfico ou de influências externas como amigos, professores de faculdade, jornalistas e críticos conceituados, etc. O fato é que o leque de opções é enorme e as discordâncias chegam na mesma proporção. Dos mais cults aos mais trash, passando pelos mais comerciais e mais desconhecidos, todo mundo tem sua lista de mestres sagrados.

Porém, mesmo todas essas opiniões divergentes vão concordar em um ponto: Todos os seus citados serão homens! Alguém já viu uma lista de melhores diretores contendo um nome sequer de uma mulher? Ok, tais listas até devem existir, mas e se compararmos com a maioria das listas das revistas de cinema, jornais e todo tipo de imprensa especializada e mesmo as mais alternativas, como fica a situação delas? Será que as mulheres não dirigiram nada tão digno de nota a ponto de não serem consideradas "mestras" ou "rainhas" do cinema?

A resposta é: Não! Existem ótimos filmes, muitos clássicos, dirigidos por mulheres. A questão é que nem todos esses filmes estão acessíveis ao grande público e, mesmo os que estão, são ofuscados por nomes de produtores (homens) ou do elenco, relegando a diretora a um segundo plano, fazendo com que o público nem saiba de sua existência. Razões por isso existem várias, desde o machismo existente no meio cinematográfico e (acreditem!) na própria imprensa até o público, que raramente se interessa em saber quem está por trás do filme que ele adorou. O fato é que as mulheres cineastas, além da batalha para realizar seus filmes, ainda enfrentam a batalha da falta de reconhecimento e da desconfiança de muitos, mesmo quando seus talentos estão comprovados artisticamente. São verdadeiras guerreiras da sétima arte!

E aí que entra esse blog: O objetivo dele é mostrar os trabalhos dessas mulheres, sempre com uma análise crítica e contextual, falando da repercussão da obra e da diretora em particular. Eventualmente postarei uma filmografia de alguma delas, mas o foco é analisar a obra por filmes. E aqui terá de tudo: de comédias a filmes de terror, passando por filmes cults, dramas, românticos , experimentais, filmes trash, filmes "de arte" e até filmes pornôs (sim, elas também estão nesse gênero). Não estranhem se depois de um filme premiado em Cannes vier um filme vencedor da "melhor cena de sexo oral" em seguida. Aqui o terreno é livre e sem restrições!

Bom, por ora, acho que está bom! Agora vou começar as resenhas, já iniciando com um perfil sobre a primeira cineasta a vencer o Oscar de direção, a estadunidense Kathryn Bigelow, isso depois de 82 edições (!!!). O curioso é que a carreira de Mrs. Bigelow é recheada de filmes considerados "de macho", mas isso é para outro post. See ya!