segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

PSICOPATA AMERICANO (2000), DE MARY HARRON




Alguns projetos já nascem com a estampa "polêmica" muito antes do roteiro começar a ser escrito. A adaptação do polêmico livro de Bret Easton Ellis foi marcada por várias confirmações e desistências de diretores como David Cronenberg e Oliver Stone e astros como Brad Pitt e Edward Norton, quase terminando com Leonardo Di Caprio como protagonista, sendo dirigido por Stone, sendo oficializados nos primeiros anúncios do filme. Mas, no final das contas, quem assumiu a bronca mesmo foi a diretora Mary Harron, do desconhecido (e interessante) "Um Tiro para Andy Warhol" e com Christian Bale no papel de Patrick Bateman, o psicopata do filme. Problema resolvido, vamos ao filme! E ele funciona?


Bom, isso vai de gosto, mas temos aqui um suspense muito diferente e bastante estranho até. Ele mistura elementos que vão do horror psicológico ao giallo, passando por momentos de puro surrealismo e loucura. É como se a diretora tivesse feito um "noitão" vendo filmes de Alfred Hitchcock, Brian De Palma, Dario Argento e ainda visto mais um filme do Takashi Miike e outro do David Cronenberg antes de ir tomar o café da manhã. E, acreditem, essa mistura fez muito bem no resultado final.


Christian Bale se destaca ao interpretar um personagem que se situa entre o egocentrismo e a insanidade, talvez por isso se destacando como alto executivo da empresa onde trabalha. Sua obsessão em ser o melhor ultrapassa os limites do bom senso quando ele percebe que já conseguiu o q que queria e que precisa de novas emoções na sua vida fútil, chegando a uma conclusão: matar!


E lá vai o executivo bonitinho, asseado e yuppie cometer os assassinatos mais ilógicos de que se tem notícia no cinema atual, sempre motivados por uma egotrip que é puro humor negro. Vale destacar que a forma que a diretora optou em mostrar Patrick, com uma abordagem mais pro humor, ao contrário do livro, não desmerece em nada o filme, pois mostra o ridículo que uma vida cheia de futilidades pode causar, funcionando como uma bela crítica ao consumo exagerado da sociedade atual.


O filme tem cenas fortes e violentas, de uma crueza assustadora, mas em outros momentos é puro humor negro com toques de surrealismo. A tal cena em que Patrick transa com uma prostituta refletindo sobre a carreira da banda Genesis nas fases Peter Gabriel e Phil Collins é de um sarcasmo que vai fazer gargalhar os fãs da banda (como este que vos escreve), mas que não vai deixar ninguém boiando. Aliás, os vários devaneios pseudo-filosóficos dele são uma pura prova de como a sociedade anda cada vez mais egocêntrica e banal, sendo tão interessantes quanto as cenas mais chocantes do filme.


No final do filme, temos uma pequena reviravolta, mas nada que comprometa. O resultado final é um bom filme de suspense, bem adaptado do livro original e com uma interpretação excelente de Christian Bale, se sobressaindo em um elenco que ainda tem o ótimo Willem Dafoe como o detetive que investiga os assassinatos, tão ou até mais psicótico que o personagem título e a talentosa Reese Whiterspoon como a noiva e fútil e carinhosa do personagem. Mas o grande mérito vai pra diretora Mary Harron, que acredito tenha sido a melhor opção para o filme, pois na mão de Stone provavelmente sairia um filme mais político e panfletário, deixando a boa trama em segundo plano. A escalação de Bale não poderia ser melhor (Di Caprio não tem nada a ver com o personagem) e a sua habilidade em cenas mais violentas é notável, o que me faz aguardar com ansiedade seu próximo filme "The Moth Diaries", que deverá sair nesse ano, que fala sobre vampiros (espero que sem o enfoque afrescalhado de uma certa série). Vale destacar que depois desse filme ela dirigiu episódios de boas séries como "Oz", "The L Word" e "A Sete Palmos", além de ter dirigido o notável "The Notorius Bettie Page", sobre a lendária pin-up, que em breve terá resenha aqui.


Depois do sucesso do filme, fizeram uma continuação "Psicopata Americano 2", lançada direto em DVD e que é uma bela tranqueira, se aproveitando de maneira oportunista do original, que só vale pra quem gosta muito de filmes picaretas. Mas o original está aí, pra quem quiser ver! Para quem já foi considerada "maluca" ao adaptar filme que era tido como "infilmável" devido a sua extrema violência, Mary Harron deu conta do recado muito bem, inclusive com um resultado do que teria se certos diretores premiados assumissem a tarefa, o que felizmente não ocorreu!


Só uma observação: Giallo, pra quem não sabe, é um estilo de filme de suspense policial feito na Itália baseado em livros policiais cujas capas são amarelas (amarelo é giallo, em italiano). As histórias desse gênero quase sempre são de assassinos em série, envolvendo também detetives obcecados, muitas cenas sangrentas e vítimas aos montes, em sua maioria, mulheres. Esse gênero teve seu auge na década de 70, sendo o italiano Dario Argento seu realizador mais conhecido, mas ainda hoje existem filmes no estilo, inclusive dirigido pelo próprio, hoje um senhor de 70 anos e pai da bela atriz Asia Argento.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

TRABALHO SUJO (2009), DE CHRISTINE JEFFS





Interessante notar que certos temas parecem se reciclar de tempos em tempos e ganhando novas maneiras de serem abordados. Pessoas que não decolam na vida e acabam se submetendo a serviços rejeitados pela maioria das pessoas não são novidade no cinema, mas é um tema que sempre se recicla e gera filmes originais, como esse "Trabalho Sujo" da diretora Chrsitine Jeffs. Aqui o foco vai para uma faxineira (Amy Adams) que, ao ver seu filho expulso da escola privada onde estuda e com receio de ter que matriculá-lo numa escola pública (e tem gente que acha que isso só tem aqui no Brasil), resolve aceitar um serviço bastante indigesto: limpar sujeiras de sangue e pedaços de cadáver dos locais onde os crimes aconteceram. Para tanto ela recruta ajuda da irmã desajustada (Emily Blunt) para a empreitada. E lá vão as duas atrapalhadas encarar sangue, tripas e mau cheiro em vários cantos da cidade, com a missão de deixar tudo limpinho e tinindo.

O grande mérito desse filme foi naturalizar a situação, sem apelar para clichês fáceis, conseguindo um resultado positivo na maioria do tempo, principalmente na primeira vez que elas tem que encarar o serviço, na que acredito, ser a melhor cena do filme, bastante crua e forte. Esse filme se equilibra entre o drama e a comédia e, se não fosse pela meia hora final, que cai no estilo novelão, seria um ótimo filme, embora no final os acertos superem os erros. A diretora Christine Jeffs, do interessante "Sylvia - Paixão Além das Palavras" agora sai um pouco do clima intimista e investe em um filme mais realista, com bons resultados. Seu estilo de direção é bastante interessante, pois tirou da razoável Amy Adams uma boa atuação e deixou a ótima Emily Blunt ainda melhor. Mas o melhor em cena é o veterano Alan Arkin, que chama toda a atenção pra si atuando como o pai das duas, num estilo falastrão e sonhador, que mais promete do que cumpre de fato e quase sempre se ferra no final.

Esse filme é recomendado especialmente pra quem gosta de temas diferentes e fora do convencional. Não é um filme definitivo e nem é clássico, mas vale duas horas de atenção, especialmente pra conferir o talento de uma diretora sensível e de um elenco afiado, em sintonia com um tema ao mesmo tempo macabro e redentor.